A história de Francis Ngannou começa em Batié, uma pequena vila em Camarões. Desde cedo, ele enfrentou dificuldades, vivendo de casa em casa entre familiares. Sonhando em trilhar um caminho diferente do de seu pai, conhecido como um temido lutador de rua, ele passou boa parte da infância com a avó, em uma casa cheia, sem dinheiro nem para comida, muito menos para material escolar. Aos 10 anos, já trabalhava em uma mina de areia, ganhando o equivalente a R$ 10 por dia, um trabalho árduo que moldou seu corpo forte e imponente.
O "American Dream"
Mesmo diante de tantas dificuldades, Ngannou desenvolveu uma obsessão pelos Estados Unidos. Ele sonhava com uma vida melhor, inspirado pelos poucos programas de TV e videoclipes americanos que conseguia assistir. Na sua vila, passou a ser conhecido como "Francisco" e, mais tarde, "San Francisco", em referência ao seu desejo de ir para a América. Ngannou acreditava que poderia chegar lá, mesmo quando muitos ao seu redor desacreditavam de seu sonho.
A Travessia do Mediterrâneo e o inicio no Esporte
Treinando em uma academia local, ele sonhava em ser como seu ídolo, Mike Tyson, que, do outro lado do mundo, se tornava campeão mundial de boxe. Anos mais tarde, os dois se encontrariam em um círculo completo, com Tyson como seu treinador.
Em 2012, aos 25 anos, Ngannou decidiu começar uma jornada rumo à Europa, em busca de uma vida melhor para ele e sua família. Foram mais de 4.800 km, desde Camarões até Marrocos. Ele enfrentou desafios extremos, viajando de carona, atravessando florestas e montanhas, e cruzando o deserto do Saara em um caminhão com 25 outras pessoas. Muitas vezes, sua única refeição vinha de restos de comida que encontrava em lixeiras, competindo com ratos.
Ao chegar em Marrocos, Ngannou tentava, sem sucesso, atravessar o Mediterrâneo em um bote inflável. Mesmo sem saber nadar, tentou várias vezes, sendo parado pela guarda costeira marroquina. Ele chegou a conseguir um passaporte falso para se passar por senegalês, mas foi frustrado em outras três tentativas de cruzar o mar.
Finalmente, depois de muito planejamento, ele conseguiu atravessar o Estreito de Gibraltar, liderando um grupo de migrantes. O barco foi resgatado pela Cruz Vermelha, e Ngannou foi levado para a Espanha, onde passou dois meses em um centro de detenção para imigrantes. Apesar das condições difíceis, ele já havia enfrentado situações muito piores durante sua jornada de 14 meses.
A chegada em Paris e o início no MMA
De lá, foi para Paris, onde passou um período morando nas ruas. Mesmo assim, Ngannou, com seu físico imponente, entrou em uma academia local em busca de um lugar onde pudesse canalizar suas ambições de se tornar campeão mundial. Lá, ele foi acolhido pelo treinador Didier Carmont, que o ajudou a encontrar um lugar para viver e o introduziu ao MMA, esporte no qual ele encontrou seu verdadeiro lar. Ngannou inicialmente queria ser boxeador, mas rapidamente se destacou no mundo das artes marciais mistas.
Após um tempo na academia de Carmont, Ngannou conheceu Fernand Lopez e começou a treinar no famoso MMA Factory. Era o início de sua jornada rumo à glória no UFC.
Ascensão no UFC e Impacto Social
Ngannou começou sua carreira no MMA com um cartel de 5-1, lutando majoritariamente na promoção francesa "100 per cent Fight". Em dezembro de 2015, ele estreou no UFC com um nocaute no segundo round sobre Luis Henrique, e emplacou seis vitórias seguidas, garantindo uma chance pelo título contra Stipe Miocic. Apesar de perder por decisão unânime para Miocic e depois para Derrick Lewis, Ngannou respondeu com uma sequência de seis vitórias consecutivas, incluindo uma vitória por nocaute sobre Miocic, que o tornou campeão mundial dos pesos-pesados em 2021. No ano seguinte, ele defendeu o título com uma vitória convincente sobre Ciryl Gane. Ngannou, agora um ícone esportivo de Camarões, usou sua ascensão para criar uma fundação em sua terra natal, oferecendo recursos educacionais e um espaço seguro para jovens treinarem.
Conquista dos Estados Unidos e Novos Desafios
Ele havia conquistado os Estados Unidos, como sempre acreditou que faria. Nascido em Batié, coroado em Las Vegas, e dono do soco mais forte já registrado na história, Ngannou se tornou a verdadeira personificação de uma história de superação. Seu sucesso no octógono até lhe rendeu uma participação no nono filme da franquia "Velozes e Furiosos". Mas Ngannou não parou por aí. Quando as negociações com o UFC não atenderam às suas expectativas, ele decidiu seguir seu próprio caminho.
Agora, Ngannou, após uma incursão no boxe (combates contra os campeões Mundiais Tyson Fury e Anthony Joshua), está prestes a enfrentar mais um desafio: voltar às suas raízes no MMA, enfrentando a grande promessa dos pesos pesados da atualidade, Renan “Problema” Ferreira. O menino de Batié, que sonhava em ser como Mike Tyson, se encontrou frente a frente com alguns dos maiores adversários que os esportes de combate já produziram.
A Próxima Luta e o Legado de Ngannou
Sua próxima luta contra Problema pode parecer apenas mais um desafio, mas para Ngannou, nada nunca foi "normal". Cada vitória, cada conquista, foi resultado de uma luta constante, e este final de semana promete mais uma página épica em sua trajetória.
PFL: Super Fights Championship
19 de outubro de 2024, às 14h30 (horário de Brasília), em Riad, Arábia Saudita
CARD PRINCIPAL (17h no horário de Brasília):
Peso-pesado: Francis Ngannou x Renan Problema
Peso-pena: Cris Cyborg x Larissa Pacheco
Peso-médio: Johnny Eblen x Fabian Edwards
Peso-pena: Husein Kadimagomaev x Zafar Mohsen
Peso-leve: AJ McKee x Paul Hughes
CARD PRELIMINAR (14h30 no horário de Brasília):
Peso-galo: Raufeon Stots x Marcos Breno
Peso-leve: Makkasharip Zaynukov x Dedrek Sanders
Peso-pena: Ibragim Ibragimov x Nacho Campos
Peso-pena: Tariq Ismail x Taha Bendaoud
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